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quarta-feira, 30 de maio de 2012

ONG em povoado de Alagoas desenvolve hábito da leitura com crianças


Instituto Iande promove leitura para fortalecimento da cidadania

As atividades do instituto ocorrem fora do período de aula.
                 


*Por Anna Ferrazza
A leitura é um importante instrumento do cidadão. Esse mote orienta um projeto de incentivo a leitura lá no povoado de Porto da Rua, em São Miguel dos Milagres, Alagoas. Desde 2008, a ONG Instituto Iande (palavra de origem indígena que significa “nós”), sob coordenação de Geisa Andrade, reúne crianças de escolas públicas para desenvolver o hábito da leitura. De acordo com a pioneira do projeto, o objetivo principal é conseguir fazer com que as crianças aprendam a ler toda a sociedade. “Formar uma turma mais poderosa, crítica e esperta começa a partir de uma historinha. As crianças precisam aprender a ler nas entrelinhas, pensar sobre o que leem. Depois, elas vão conseguir ler a região, a sociedade e a si mesmas”, explica Geisa.
A professora e pedagoga traz assuntos do cotidiano para serem discutidos nos encontros. São Miguel dos Milagres tem se tornado uma cidade vulnerável por conta do crescimento turístico.  Uma das crianças então argumentou que a culpa do aumento da violência e criminalidade era do próprio turismo. A partir disso, Geisa trabalhou a noção das consequências boas e ruins que acompanham o desenvolvimento e o significado de políticas públicas.
A área que compreende todos os vilarejos de São Miguel dos Milagres tem cerca de sete mil habitantes, de acordo com dados divulgados pelo IBGE. São três escolas na rede pública (uma delas é a própria Escola Estadual de Porto da Rua, povoado em que onde ) e somente a Escola Municipal Luiz Vercosa de Albuquerque teve Ideb acima da meta, em 29%, com nota 3.6 (o Ministério da Educação considera a educação com qualidade adequada a partir do seis).
O projeto atualmente possui três turmas, com crianças a partir de nove anos, que se reúnem uma vez por semana. Geisa destaca que as atividades acontecem fora do ambiente escolar, na própria sede da ONG, e são organizadas de manhã ou à tarde, dependendo do horário das aulas. No primeiro momento, Geisa é quem faz a leitura das histórias e as crianças vão ganhando mais familiaridade com os livros também na leitura em casa. Ao mesmo tempo, Geisa não exige que todas façam a leitura em voz alta, para respeitar o tempo daqueles que não têm a mesma facilidade que os outros. Em seguida, conforme as crianças crescem, os mais velhos vão às escolas para contar histórias aos alunos mais novos.
Antes de morar na cidade alagoana, Geisa residia em Olinda, Pernambuco, onde realizava trabalho semelhante. Professora e pedagoga, ela conta que esse é o trabalho de uma vida toda. Sua mudança para São Miguel dos Milagres aconteceu por ela acreditar que a leitura pode ajudar a desenvolver a comunidade local.

Cinco dicas para quem quer contribuir para o desenvolvimento da Educação (por Geisa Andrade, da ONG Instituto Iande):
  1. É preciso saber, querer e gostar daquilo que pretende fazer;
  2. Conhecer as pessoas da comunidade na qual o trabalho será realizado;
  3. Ter uma boa relação com o grupo de trabalho;
  4. Formar parceiros é imprescindível para continuar com a ação;
  5. A visão da importância que o projeto tem para a região estimula o comprometimento.
Além do valor de ensinar as crianças a ler, Geisa entende que o mais importante é conseguir fazer com que algumas delas trilhem para o caminho de gostar de ler, de ver o deleite nessa atividade. Doações de empresas, de colaboradores e do Estado garantiram a formação de um acervo com mais de três mil títulos da literatura infanto-juvenil. Hoje, Geisa já contabiliza alguns resultados de seu trabalho.
“A primeira turma fez 11 livros de pano, assim eles se sentem autores e produtores da própria história. Um dos temas trabalhados é o meio ambiente e agora eles já tem a visão daquilo que “não podemos fazer”, como desmatar ou atear fogo no campo”.
O Instituto Iande continua o trabalho com os alunos até que completem 17 anos. Para dar sequência ao aprendizado, a ONG apoiou a criação de um cursinho pré-vestibular, dessa vez sob orientação de Carolina Souza, para dar apoio aos jovens e adultos da região que querem ter o ensino superior completo, mas não têm condições de ir até Maceió para estudar. As aulas são gratuitas, os professores são voluntários e o currículo segue a orientação para o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio).
Atualmente, a ONG é ponto de referência para empréstimos de livros. Até mesmo os professores da rede pública sabem que podem contar com o acervo do Instituto Iandê, o mais completo da literatura infanto-juvenil em São Miguel dos Milagres.



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