A coordenadora de educação da 25ª Bienal diz que o ensino da disciplina deve acabar com o certo e o errado
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Até o começo de junho, pinturas, esculturas e instalações de artistas plásticos de todo o mundo estarão expostas na 25a Bienal de São Paulo. É uma excelente oportunidade para os professores mostrarem a seus alunos as tendências da Arte Contemporânea. Mas também é uma chance de discutir o ensino de Arte no país e de fazer uma revisão nos métodos de trabalho. Para ajudar nessa reflexão, a repórter Roberta Bencini entrevistou a professora do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Mirian Celeste Martins. Doutora em Arte, ela trabalha com formação de educadores e coordena o grupo Ação Educativa da Bienal, que tem como objetivo tornar a exposição produtiva para os professores e alunos interessados. Aquarelista nas (poucas) horas vagas e pesquisadora em tempo integral, ela afirma: "Não sei falar sem ter uma imagem para dar suporte às idéias".
NOVA ESCOLA> O que a Ação Educativa oferece aos professores durante a Bienal de São
Paulo?
Mirian
Celeste Martins< Nosso
trabalho é ajudar os professores a se preparar para monitorar as visitas com os
alunos. Marcamos encontros prévios para explicar o tema central da exposição e
traçar um itinerário básico, adequado às intenções de cada educador. Como
apoio, temos uma sala para pesquisa, com monitores treinados e material sobre
tudo o que está exposto.
NE> Qual a
diferença entre esta Bienal e as anteriores?
Mirian< Este ano, a mostra assumiu de
vez que é o espaço da arte contemporânea e aboliu o espaço museológico. Os
visitantes ficavam muito tempo olhando obras conhecidas e não davam a devida
atenção às novas tendências. E sempre foi objetivo da Bienal divulgar as
vanguardas.
NE> Por que
existe resistência em relação à arte contemporânea?
Mirian< Porque ela é mais difícil de ser
entendida, perturba, provoca e incita o espectador.
NE> Mas essa
sempre foi a intenção dos precursores das novas idéias, não?
Mirian< Com certeza! Todos os movimentos
de vanguarda são contrários às normas estabelecidas. O impressionismo se opôs
ao academicismo. Na época, não era considerado arte, mas borrões jogados na
tela. A sociedade ria e desprezava quem aderia ao movimento. Acho que se dá
algo semelhante com os artistas contemporâneos. Hoje, temos rupturas mais
abruptas. Não podemos ficar parados no tempo e ter como referência a produção
de cem anos atrás. Para entender uma obra contemporânea é preciso conhecer as
pesquisas e as idéias que surgiram nas últimas décadas.
NE> Que
temas o professor pode explorar com seus alunos na Bienal?
Mirian< O tema da mostra é a metrópole.
Temos cinco artistas para cada uma das onze cidades representadas e
apresentamos também o espaço urbano utópico. O professor pode refletir sobre o
sentido das cidades e o motivo de elas serem tão diferentes. O tema interessa a
Geografia, Língua Portuguesa e Ciências Naturais, porque permite analisar os
trabalhos relativos ao ser humano em situações de exclusão, de violência. Outra
possibilidade é induzir os alunos não somente a encontrar respostas, mas a
procurar novos jeitos de perguntar.
NE> Isso
vale também para quem leciona fora dos grandes centros urbanos?
Mirian< Mesmo morando numa cidadezinha
do interior, quem tem televisão já está conectado a outras realidades. Esse
professor, mesmo que não tenha como visitar a mostra, pode obter informações
sobre ela pela imprensa e refletir com seus alunos sobre o lugar em que vive, a
escola, a praça.
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